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Resenha Literária: Divergente de Verônica Roth

 

Resenha Literária: Divergente

Por: Natty Faria


Título: Divergente Vol.01
Série: Divergente
Autor: Verônica Roth
Editora: Rocco
Ano de lançamento: 2011

"Uma escolha. Uma escolha decide quem são seus amigos. Uma escolha define suas crenças. Uma escolha determina sua lealdade... para sempre. Uma escolha pode te transformar."


O A história de Divergente se passa em uma Chicago futurista, onde as pessoas são divididas de acordo com suas habilidades e aptidões em um sistema de castas: Abnegação, Amizade, Audácia, Erudição e Franqueza. Aos 16 anos, todas as pessoas passam por um teste que os direciona para qual casta escolherem. Uma vez feita esta escolha, você começa uma nova vida, na facção que você escolheu, mesmo que tenha que deixar todos os que ama para trás.
A história acompanha a trajetória de Tris. Em seu teste de aptidão, o resultado é inconclusivo: Tris era uma das pessoas a quem eles chamam de Divergente, uma pessoa que se encaixa em mais de uma facção. Nascida na abnegação e insatisfeita por se julgar inadequada em seu próprio lar, Tris escolhe ir para a Audácia, admirando a coragem que os membros desta facção demonstram e querendo se tornar como eles. Mas lá ela descobre que ainda pode ser cortada e se tornar uma Sem Facção. Estas pessoas são vistas pela sociedade com preconceito, e são obrigadas, por isto, a aceitarem os piores empregos, e viverem praticamente de esmolas, na maioria das vezes doadas pelos membros da Abnegação, que são os governantes da cidade.
Além disso, os membros da Erudição, que acreditam que deveriam governar a cidade por serem os mais inteligentes, tentam derrubar a Abnegação, publicando artigos que colocam a integridade da facção à prova. Considerando que seu pai é um dos membros do Conselho Governante, Tris se vê muitas vezes dividida entre os sentimentos que ainda tem pela família e a facção que escolheu, impotente pelo lema defendido pela cidade “a facção antes do sangue”.
Tris é uma das minha protagonistas preferidas de todos os tempos, principalmente por causa de sua imperfeição, mostrada ao longo do livro tanto física quanto emocionalmente, e por sua determinação. Um bom exemplo disso é que mesmo que ela seja a menor e menos preparada fisicamente para as lutas corpo a corpo da Audácia (que fazem parte do treinamento) ela ainda assim, se esforça a ponto de conseguir uma boa colocação no final do primeiro estágio de treinamento, por derrotar um oponente visivelmente mais forte.
Além do fato de não se fingir de boazinha, vemos que Tris pode ser calculista quando ela deliberadamente finge fraqueza mesmo para os seus amigos, para que eles não prestem atenção nela quando ela se torna a melhor de todos no segundo estágio de treinamento. Isto é justificado pelo fato de ela ser uma Divergente e não poder contar isto para ninguém, mas mostra exatamente como é a natureza humana, com uma protagonista com quem podemos nos identificar. Você, no lugar dela, não mentiria e fingiria ser fraco, desde que isto significasse que você estaria seguro, que ficaria vivo nem que fosse por mais um dia?
A respeito do sistema distópico de facções, como mostrado no livro, trata-se de um bom sistema para garantir a paz, mas somente na teoria. Teoricamente, se dividirmos as pessoas em grupos, de acordo com suas habilidades e afinidades a chance de conflitos diminui. Mas será que aguentaríamos viver assim, sempre fazendo as mesmas coisas, dia após dia, conversando com as mesmas pessoas, falando dos mesmos assuntos...?
Outro ponto positivo do livro, é que ele mostra os dois lados de uma mesma característica: a exemplo da Audácia: eles prezam a coragem e para provar que são corajosos, eles se mostram muitas vezes cruéis e imprudentes, assim como nas outras facções, o lado negativo sempre é mostrado, ainda que não claramente.
O livro não tem tanta violência física quanto outro sucesso distópico da mesma época (Jogos Vorazes) mas nos mostra a violência psicológica naturalmente, algo que nem mesmo os personagens percebem que estão sendo violados. A começar por um teste de aptidão para determinar o que você é, em sua essência, como se o autoconhecimento não fosse valorizado. Além disso, há as simulações que exploram, dentre outras coisas, os piores medos da pessoa, fazendo com que ela viva aquele terror e que ela se obrigue a relaxar, controlar os batimentos cardíacos e passar por eles. Para eles significa ser um vencedor, mas concorda que dependendo de qual seja o seu medo você pode sair de lá traumatizado?
Concluindo: Divergente é o primeiro livro de uma trilogia, que conta com um livro extra (Quatro). É uma trilogia que eu recomendo a leitura para a reflexão a respeito das formas de manipulação – mesmo as sutis – às quais estamos diariamente expostos, e quantas vezes não podemos ser manipulados sem sequer percebermos o que está acontecendo.

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