Resenha Literária: A Queda do Céu de Davi Kopenawa Yanomami, Bruce Albert

 

Resenha Literária: A Queda do Céu de Davi Kopenawa Yanomami, Bruce Albert

Por: Natty Faria

Título: A Queda do Céu – Palavras de um xamã yanomami

Autor: Davi Kopenawa Yanomami, Bruce Albert

Editora: Companhia das Letras

Ano de lançamento: 2015

Tradução: Beatriz Perrone-Moisés

"Relato de xamã Yanomami revela a riqueza e as lutas dos povos da floresta em livro de gênero único. Um grande xamã e porta-voz dos Yanomami oferece neste livro um relato excepcional, ao mesmo tempo testemunho autobiográfico, manifesto xamânico e libelo contra a destruição da floresta Amazônica. "

Para ser honesta, eu não esperava grande coisa desse livro porque não costumo ler não-ficção e estou muito feliz em dizer que eu estava errada. 

A Queda do Céu é, basicamente, o relato de Davi Kopenawa sobre os yanomami. Ele conta sobre seus costumes, suas crenças, seus valores e, principalmente, sobre os xamãs e como ele se tornou um deles.

O ritmo de leitura é um pouco lento, sim. Isso porque ele relata em sua própria voz, conta com detalhes como as coisas aconteceram (até seus sonhos estão em detalhes) e manifesta sua opinião sobre alguns acontecimentos. A história da vida dele é muito interessante: desde criança ele tinha pré-disposição para se tornar um xamã, ele tinha sonhos e através desses sonhos, ele tinha contato com os espíritos “xapiri”, que são os espíritos que dançam para os xamãs, para que eles curem seus irmãos.

Mas além de falar sobre isso, Davi nos conta sobre o tempo que ele trabalhou na Funai e sua história nos permite ver algumas negligências que ocorrem com os indígenas (ele, por exemplo, foi infectado por tuberculose porque a Funai lhe deu como companheiro um homem doente, e eles tinham que compartilhar objetos pessoais. A Funai levou Davi para um hospital, para que ele se tratasse, no qual ele ficou um ano internado, mas isso não muda o fato de que, se tivessem certos cuidados – como dar objetos pessoais separados para Davi e seu companheiro, por exemplo – talvez ele não tivesse sido infectado) e sobre as viagens que ele fez para a Europa e Nova Iorque.

O que Davi nos conta sobre o fim do mundo é o que já sabemos: quando o céu cair, será porque o homem branco é tão ambicioso que seus interesses egoístas são mais valiosos do que seus irmãos, seus filhos, seus pais e a preservação da natureza. Ao contrário dos índios, que só retiram da natureza o que precisam para sobreviver, o homem branco a explora para obter fartura e status, para estar acima de todos os outros, para satisfazer uma necessidade egocêntrica de poder. Os homens brancos não querem compartilhar, não sabem preservar, desprezam qualquer coisa que esteja além de seus desejos materiais. Vemos este contraste nas interações entre Davi e os homens brancos com clareza em todos os momentos. 

Recomendo esse livro para todos. Literalmente, para todas as pessoas do mundo. Todos deveriam conhecer a história de Davi e refletir sobre seus próprios costumes. Pensar em como o mundo seria um lugar melhor se todos respeitassem o que a natureza nos dá, se parássemos de matar nosso planeta para que meia dúzia de pessoas sejam consideradas superpoderosas enquanto a grande maioria morre à míngua.