Resenha Literária: Cidades de Papel de John Green
Por: Natty Faria
Título: Cidades de Papel
Autor: John Green
Editora: Intrínseca
Ano de lançamento: 2013
"Na minha opinião, todo mundo tem o seu milagre. Por exemplo, muito provavelmente eu nunca vou ser atingido por um raio, nem ganhar um prêmio nobel, nem ter um câncer terminal de ouvido. Mas, se você levar em conta todos os eventos improváveis, é possível que pelo menos um deles vá acontecer a cada um de nós. Eu poderia ter presenciado uma chuva de sapos. Poderia ter me casado com a rainha da Inglaterra ou sobrevivido meses à deriva no mar. Mas o meu milagre foi o seguinte: de todas as casas em todos os condados da Flórida, eu era vizinho de Margo Roth Spiegelman."
A história é narrada em primeira pessoa por Quentin Jacobsen. Desde o começo fica nítida a sua paixão não correspondida (e talvez, mal direcionada) por Margo Roth Spiegelman. Ele conta sobre como se conhecem e como a vida dos dois tomou rumos diferentes conforme eles foram crescendo. Mas no dia 05 de maio, próximo a formatura do último ano, Margo aparece novamente na sua janela, convidando-o para uma aventura, à qual ele não resiste.
Depois da aventura, Margo desaparece misteriosamente, mas deixando pistas para trás. E ele se vê na obrigação de encontrá-la porque: 1- ela quer ser encontrada, afinal, ninguém quer ficar eternamente perdido; 2- ele é completa e incondicionalmente apaixonado por ela. A partir de então, ele começa a ter uma obsessão crescente por encontrar Margo, vendo pistas e sinais por todos os lugares de onde ela pode estar, procurando-a incansavelmente – e levando seus amigos na mesma jornada com ele. Por vezes, Quentin fica com raiva, mas nem assim desiste de procura-la. Para ele, isso é essencial, tanto que ele perde a colação de grau por isso.
Primeiro vamos falar sobre os outros personagens, de quem eu gosto mais: Ben, Lacey e Radar. Radar e Ben são amigos de Quentin desde sempre, talvez. Ben é divertido e tenta ser descolado e enterrar a maldita fama de “Mija-Sangue”; Radar é inteligente e centrado, responsável pela Omnictionary. Lacey é uma garota apresentada primeiramente sob a visão de Margo como fútil e arrogante, mas que se mostra uma pessoa genuinamente cativante e o total oposto do que sua melhor amiga pensava. Os três, embora tenham suas vidas e muito mais com o que se preocupar, acompanham Quentin em toda a sua jornada obsessiva procurando por uma garota que ele nem sabe se quer ser encontrada. Eles mostram o verdadeiro sentido de amizade, de aceitar o seu amigo e não abandoná-lo. Radar mesmo diz isso a Quentin, quando este está reclamando de Ben: que cada pessoa é de um jeito, e está tudo bem, não podemos e não devemos querer que outras pessoas sejam do mesmo jeito que a gente. Corretíssimo.
Agora sobre os protagonistas: Margo pode ser o milagre de Quentin, mas certamente é uma menina egoísta e egocêntrica. O motivo de ela falar mal de Lacey e até fazer um trote contra ela é porque ela jurava que a amiga sabia que o namorado de Margo a estava traindo. Quentin acredita nisso completamente, participando do trote, para só depois descobrir que Lacey nem sabia dessa traição. Os julgamentos precipitados de Margo não se limitam somente a ela. Em certa ocasião, a mocinha também é bem babaca com Ben (o chamando de Mija-Sangue) e depreciando o relacionamento entre ele e Lacey.
Quanto a Quentin, ele é cego por Margo. A personalidade dele no livro é moldada pelo que ele viveu com ela. Ela é sobre tudo o que ele fala, é tudo em que ele pensa e sua vida gira em torno da menina. Suas opiniões sobre si mesmo estão ancoradas no que Margo tornou ele. Basicamente é isso. Em sua própria concepção, ele era praticamente um inútil, até Margo desaparecer e sua vida ter um propósito: encontrá-la. E quando ele a encontra, finalmente ele percebe que sua jornada não foi o que ele pensava que seria. Margo pode ser bem imbecil, inclusive com ele, e, como ela mesma diz, ela é uma garota de papel.
John Green não é um escritor ruim. Inclusive, todos esses pontos, especialmente sobre os protagonistas nos leva a discutir exatamente a respeito do que a história trata. Podemos considerar a obsessão de Quentin como amor? Ele estava apaixonado por Margo ou pela ideia que ele tinha dela? Como você pode declarar amor por uma pessoa que você não conhece direito? E quanto a Margo, abandonar tudo é mesmo uma decisão egoísta? Se ela não queria ser encontrada, por que deixou pistas para trás? Existe alguém no mundo que verdadeiramente queira sumir e que ninguém a procure? Não está na natureza humana a necessidade de se sentir importante para alguém, qualquer um, quem quer que seja?
O ponto negativo nesta história é o motivo da “paixão” de Quentin. Como acontece em outro livro do mesmo autor, Quem É Você, Alasca?, aparentemente o protagonista só amava a menina porque ela era muito gostosa (as curvas de Margo são muito mencionadas) e ele fica obcecado com ela porque não pode ter para si a versão perfeita dela que ele imagina, e quando a vê de verdade, como ela é, sem camadas, ele confirma que a jornada é melhor do que o destino.
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