Resenha Literária: Garotas de Vidro de Laurie Halse Anderson
Por: Natty Faria e Gabriel Manoel
"Lia está doente e sua obsessão pela magreza a deixa cada vez mais confusa entre a realidade e a mentira. Mas ela perde totalmente o controle quando recebe a notícia de que sua melhor amiga, Cassie, morreu sozinha em um quarto de motel. E o pior: Cassie ligou para Lia 33 vezes antes de morrer."
Cassie é bulímica e essa se torna a causa da sua morte, explicada no livro pela mãe médica de Lia. O estômago dilatado três vezes mais do que o normal. O rompimento do esôfago. A dor que ela certamente sentiu antes de morrer. Isso assusta Lia, mas o que, muitas vezes as pessoas ao redor dela não entendem é a doença que a aflige. Lia é anoréxica. Sua vida se resume em contar calorias ingeridas e calcular quantas precisam ser gastas para que atinja a sua meta, em fingir que se alimentou, se exercitar até a exaustão, criar truques para enganar a balança e pensar em sua meta inatingível: 48kg... 44kg... 42kg... 38kg... 34kg...
E não é só isso. Lia também se autoflagela com cortes em sua pele desde a crise do divórcio dos pais, e isso só piora quando a anorexia se desenvolve. Por fim, depois do funeral e do enterro de sua amiga, pressionada por todos os lados para se curar (como se a cura fosse um interruptor) e para explicar aos familiares de Cassie por que ela morreu (como se eles não soubessem), Lia tenta o suicídio. É internada, costurada, informada do seu estado de saúde e obrigada a ficar na casa da mãe. Lia foge para o motel onde Cassie morreu e descobre qual mensagem a amiga queria deixar naquelas 33 ligações perdidas: Lia tinha ganhado.
O livro não tem um final feliz, mas é um final que nos traz esperança. O primeiro ponto a ser elogiado neste livro é que a narrativa em primeira pessoa é essencial para mostrar como é ter um transtorno alimentar e que realmente isso é uma doença. Em muitas passagens do livro, os pais e a madrasta de Lia dizem para ela que “é só comer”, “você quer se matar” e coisas do tipo, da mesma forma como milhares de pessoas de verdade olham para outras pessoas de verdade e julgam seus sofrimentos como frescura, apresentam soluções óbvias que não levam a lugar nenhum.
O segundo ponto é a qualidade narrativa. Embora a história se passe em poucos dias, é o bastante para deixar o leitor suspenso em um estado de preocupação e empatia com as dores não apenas da protagonista, mas também de seus familiares. Porque, sim, ela sabia que os fazia sofrer, mas ela não tinha condições de parar de fazer o que fazia. Ela não se via como doente embora soubesse que estava; ela odiava a si mesma e sentia que para não se odiar, tinha que estar em uma determinada condição física; ela estava tão fragilizada emocionalmente que erguia muros que a impediam de ser ajudada. E sim, de novo, esta é uma condição real de quem passa por isso.
Minha única ressalva é que há um aspecto fantasioso presente na trama, algo ligado à forma como Lia vê a realidade ao seu redor que me incomodava, a princípio me parecia óbvio tal desvio da realidade, mas no final a autora dá outra explicação para isso fazendo parecer que esse aspecto psicológico não é característico de todos os jovens com anorexia, mas apenas de Lia, o que me pareceu de certa forma contraditório.
Um elogio especial à Laurie Halse Anderson por nos trazer uma história tão necessária mesmo nos dias de hoje. E um recado para todas as pessoas do mundo: comentários como “você engordou”; “você emagreceu”; “você tá feio”; “você tá bonito”; “você devia fazer uma dieta”; “já ouviu falar do jejum intermitente” e coisas do tipo são absolutamente desnecessários e podem se tornar gatilhos. Tenha cuidado com as palavras que saem da sua boca, porque elas só provam do que o seu coração está cheio.
Não acho que esse livro vale essa nota, achei muito massante.
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