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Resenha Literária: O Crime do Padre Amaro de Eça de Queirós

 

Resenha Literária: O Crime do Padre Amaro de Eça de Queirós

Por: Natty Faria


Título: O Crime do Padre Amaro
Autor:  Eça de Queirós
Editora: Livraria Chardron
Ano de lançamento: 1875 (Primeira Edição)

"A obra tem como espaço a cidade de Leiria, em Portugal. José Miguéis, o pároco da cidade faleceu. Com a chegada de um novo pároco, Amaro é recebido por uma das famílias da cidade."

O Crime do Padre Amaro é um dos meus livros favoritos entre os clássicos portugueses. Muito disso se deve à crueza da narrativa, à realidade apresentada, aos conflitos bem estruturados.

Nesta história, acompanhamos Amaro. Quando era um garotinho, Amaro perdeu os pais e acabou sendo criado pela patroa de sua mãe. Criado em uma casa cheia de mulheres que o mimavam e adoravam, Amaro cresceu cercado de carinho e conforto. Mas, um dia, a mulher que o criava também morreu e era de sua vontade que Amaro se tornasse padre. 

Ele cumpriu com a vontade dela. Foi enviado para Leiria, para substituir um pároco que havia falecido e foi bem recebido na casa de uma beata que tinha uma jovem filha, Amélia. Padre Amaro mora nesta casa por um tempo, mas conflitos com o noivo de Amélia – que sentia ciúmes do padre – o fizeram se mudar. Mesmo morando em outro lugar, sua afeição por Amélia não diminui e, depois de o noivo dela publicar um artigo a respeito de padres que, para os religiosos, foi bem ofensivo, Amélia rompe o noivado e passa a se encontrar as escondidas com o Padre Amaro. O resultado disso é uma gravidez indesejada.

Imagino que todos saibam o que acontece com Amélia, pois esta informação é uma das primeiras a aparecer quando se pesquisa “O Crime do Padre Amaro”. Quanto ao padre, este segue com sua vida sem maiores transtornos.

A primeira coisa a se dizer sobre O Crime do Padre Amaro é que se trata de uma obra prima do realismo português do século XIX. Eça de Queirós foi ousado e corajoso em publicar um livro como este naquela época, em que a sociedade vivia apenas de aparências. Não que isso não ocorra hoje, mas era muito mais escandaloso naquele tempo. 

O livro é repleto de nuances e mesmo os personagens que aparecem pouco na história são bem construídos. A melhor parte dele é Amaro, um protagonista que não é vilão nem mocinho, que nos faz torcer por ele ao mesmo tempo em que queremos torcer o pescoço dele. Outro ponto positivo são os questionamentos que o livro levanta de forma clara: O que é a fé? Por que você tem fé? Até onde você iria para proteger a si mesmo? Até que ponto devemos negar a nós mesmos e por que devemos fazer isso?

Amaro, por exemplo, nunca quis ser padre, mas foi transformado em um contra a sua vontade. Se o que ele fez não é certo, devemos considerar certo ele ter sido praticamente obrigado a seguir uma vocação que ele não tinha? Mas se formos fazer uma lista de certo e errado, não teremos erros a pontuar desde a criação do mundo?

Este livro é ricamente escrito, mas a leitura pode ser um pouco maçante para aqueles que não tem familiaridade com obras clássicas, por causa de seu ritmo e da linguagem padrão da época. Ainda assim, será uma leitura enriquecedora, em termos de conhecimento linguístico e de reflexão sobre a realidade. Eça de Queirós foi um brilhante escritor e, sem dúvida, este é o seu melhor livro.

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