Resenha Literária: Quarto de Despejo de Carolina Maria de Jesus
Por: Natty Faria
Título: Quarto de Despejo
Autor: Carolina Maria de Jesus
Editora: Francisco Alves
Ano de lançamento: 1960 (Primeira Edição)
"O diário da catadora de papel Carolina Maria de Jesus deu origem a este livro, que relata o cotidiano triste e cruel da vida na favela. A linguagem simples, mas contundente, comove o leitor pelo realismo e pelo olhar sensível na hora de contar o que viu, viveu e sentiu nos anos em que morou na comunidade do Canindé, em São Paulo, com três filhos."
Ler Quarto de Despejo foi uma experiência sensacional, que me despertou muitas emoções. Concluir essa leitura foi um dos maiores prazeres que tive ao longo de 2021.
O livro é o diário de Carolina, relatando o dia a dia da favela. Parece simples de ser explicado, mas conforme a leitura avança, há várias complexidades entremeadas umas com as outras. Carolina é mãe de três filhos e catadora para sobreviver, mora em uma favela cercada de pessoas briguentas, bêbadas, aproveitadoras muitas vezes e, acima de tudo, individualistas. Em várias passagens vemos que Carolina se dispõe a estender a mão para seus vizinhos e a grande maioria deles retribui com ignorância e hostilidade.
Mas o que a autora nos leva a questionar nessas mesmas passagens, com sua linguagem simples e direta é: eles são os únicos culpados? Não estavam, todos na favela, “no mesmo barco”? Da mesma forma como acompanhamos com o coração apertado todas as dificuldades de Carolina, os vizinhos dela não passavam por situações semelhantes? E de quem é a culpa disso?
Carolina demonstra toda a sua força e sabedoria em cada anotação. E sua coragem é admirável. Mesmo sendo uma mulher para quem ninguém olharia em uma situação comum, ela não tem medo de dar sua opinião, de criticar os políticos que pensam nos pobres somente em época de eleição, e depois não se importam mais. Dizer que a favela é um “quarto de despejo” é triste, mas também, real, atinge a alma de quem está lendo porque suas palavras são cruelmente verdadeiras. As pessoas tendem a não olhar para a favela, para os favelados, como se eles fossem inferiores, quando no final das contas, todos são pessoas de carne e ossos, com intelecto, como qualquer um de nós.
A leitura deste livro é recomendada por uma série de razões mas quero destacar que trata-se de literatura brasileira feminina, escrita por uma mulher pobre e negra, favelada, mas muito forte, corajosa, inteligente, determinada e resiliente. Há trechos neste livro que nos deixam com um nó na garganta, outros em que queremos estapear a cara de certas pessoas, e outros ainda em que tudo o que desejamos é abraçar a autora. Um elogio em especial por terem publicado exatamente como estava o diário dela, pois é o tipo de livro que, adaptado para uma prosa comum, por exemplo, perderia toda a sua sensibilidade.
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